quarta-feira, 25 de novembro de 2009

[8] Cura ou doença?

Já afirmavam, no fim de uma música, os Ornatos Violeta: “Para nos lembrar que o amor é uma doença, quando nele julgamos ver a nossa cura”. Até que ponto esta afirmação, inserida numa das minhas melodias favoritas de sempre, poderá ter o seu traço de razão? Ou talvez melhor ainda, porque já interpretei eu esta frase como fantástica e, noutro espaço temporal, como um disparate? Os estados de espírito que nos conduzem através dos carris da vida levam-nos a puxar a brasa da mais adequada maneira à nossa sardinha. Quem, no seu perfeito juízo, poderá olhar-se ao espelho, todo engatatão e preparado para um jantar com a sua amada, e afirmar que aquilo que está a viver é uma doença? “Não! Tudo isto é o conto de fadas com que sempre sonhei! Chegou aqui a cura para os meus problemas no trabalho, com a família, com o cão...”

Nem mais. A “cura” que nos possivelmente levará a ter atitudes de ciúme, de vingança e de escárnio para alguém que se possa intrometer na relação. A mesma cura para a ansiedade acumulada por não responder ao telemóvel e os conseguintes pensamentos de traição e de desconfiança. Calma. Quantos “pecados” já eu li aqui? Uns quantos, nada agradáveis. De qualquer maneira, não vou defender a teoria dos Ornatos.

O amor tem a capacidade de surpreender. Quer à pessoa amada, quer à pessoa amante. Sei o que é amar. Sei como bate o coração, “aquele” bater de coração que nós identificamos como único mas que não nos importamos de ter. Sei da tal ansiedade, do querer que do outro lado haja exactamente o mesmo que no nosso. Sei, acima de tudo, do que sou capaz. E o amor é capaz de nos tornar loucos. Loucos por nos fazer pensar tanto e tão pouco. De nos fazer pensar e não dormir toda uma noite por causa duma atitude impulsiva e não-pensada que foi tomada quando estávamos com a outra pessoa. O sentimento da mais ínfima possibilidade em perder essa segurança do nosso sistema circulatório possui-nos e descontrola-nos no nosso kharma. Podemos perder o nosso ego, mas não aquilo que mais amamos.

Muitos dos que possam ler este texto podem não saber do que estou aqui a teclar, porque podem nunca ter vivido aquele batimento cardíaco falhado quando aquele “alguém” aparece repentinamente. Mas aqueles que já o viveram, sabem, concordam ou discordam com o que escrevo. Porque o amor é complexo e personalizado, funciona de acordo com o ego de cada um. Mas uma coisa é certa.

Cura ou doença, o amor não só define os nossos limites, como os extrapola a um nível onde nada nem ninguém poderá, um dia, experienciar.

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