sexta-feira, 29 de julho de 2011

[51] Páginas

A constância com que abrimos e reabrimos o livro da vida mostra a nossa adaptabilidade perante novas situações e a nossa resistência perante capítulos passados. Proteger as páginas seguintes, brancas como cal, expectantes de serem preenchidas com contos de fadas, é um dever exigível, mas nem sempre exequível. Limpar o pó à capa, cuja cadência do seu título se altera de tempos a tempos, revela segurança e auto-confiança. Reler páginas antigas não significa necessariamente revivalismos inadequados. Pode engrenar facilmente como um manual de instruções sobre o que fazer ou não fazer.

A vida não tem manual de instruções. Vive de segundos, de terceiros, de horas, de “ora isto, ora aquilo”. Vive de decisões. A coragem é aplicada em cada uma delas. Em 99% delas, nem sequer nos apercebemos dela, como quando decidimos aguentar a urina antes de viajar, quando se podia terminar desde logo a tarefa. De certa forma, tal envolveu coragem. Como é óbvio, também envolveu preguiça.

A coragem mostra os “fortes” e os “fracos”? Teoricamente, sim. Mostra os “vencedores” e os “perdedores”? Teoricamente, não. Mostra, na prática, quem está disposto a assumir as suas convicções perante um cenário rocambolesco, afirmando-se no cenário de guerra como alguém prestes a dar o corpo às balas. Defendendo as suas ideias, os seus sentimentos e o seu próprio ego.

Olho em redor neste largo e profundo planeta e vejo homens com H grande. Não muitos. Hão-de se contar pelos dedos das mãos e dos pés. Tu és um deles. Aquilo que enfrentas é espinhoso. Requer coragem. Tu tem-na. E quem tem para enfrentar aquilo a que já te propuseste, superará seja o que for que estiver do outro lado do Cabo das Tormentas. Peito feito, respirar fundo, enfrentar, reagir, aprender e a seguir? Como sempre, virar a página branca e escrevê-la.