Velocidades. De ritmo, de deslocamento, de pensamento, de decisão. O
mundo que nos soterra é veloz e fugaz como uma pena disparada por uma
ventoinha, mas também é suave e delicado na forma como a pena aterra no chão
após o agressivo impulso. Ambas as coisas acontecem a velocidades totalmente
diferentes, mas qual delas obteve mais encanto, mais impacto e beleza numa
pintura rupestre para a eternidade? Não sabemos, porque o impulso que o mundo
nos dá tem encantos diferentes para a velocidade a que nós queremos viver. E
nem sempre podemos funcionar como nós queremos, por muito que especulemos sobre
um determinado desfecho. Porque uma coisa é certa: o relógio nunca pára, nós é
que temos de viver os momentos certos para que ele pareça correr mais depressa
que nós. Um ligeiro efeito Matrix
onde cada segundo é vivido e pensado e sentido e respirado como uma hora de
encantos e sensações rejuvenescentes. Não serve de muito viver uma hora de
maravilha para ser compensada com um mês de arrependimento, mas é melhor
arrepender de algo que se fez do que viver apenas no nosso cérebro algo
hipoteticamente exequível.
Os ritmos são marcados, tal como o compasso do piano. Podemos empurrá-lo
com mais ou menos força, e dirigir a orquestra do nosso karma. Perde-se menos tempo a enviar uma sms a dizer algo, do que a pegar nos pés ou no volante e dizer in loco. Mas perdeu-se tempo? Para mim,
ganha-se. Uma questão de ritmos. Os três segundos de envio através de redes e
torres de emissão, transpostos numa deslocação, convite, transmissão de
mensagem e de feedback. Mais lento,
mas mais vivido, mais rico.
Há momentos que recordo, há outros que tenho a capacidade de
projectar. Diferentes atitudes, mas com velocidades a roçar o caracol naquilo
que é a plenitude da vida. Essa é a forma de encarar as coisas. Só isso faz
sentido, só isso me faz mover. Encontrar a forma de correr mais devagar que o
relógio. Sei que é raro de acontecer, mas quem ler raro pode pensar em improvável ou impensável. Eu prefiro pensar noutro
sinónimo: possível.