Sinfonias. Melodias. Composições. A suavidade de uma guitarra no cruel contraste com um baixo. A sensação espairecedora de um violino a chocar violentamente contra uma bateria sem afinação. A assunção do piano como uma qualquer escadaria que as nossas mãos percorrem na procura do piso ideal. O contrabaixo numa pancada seca no nosso tímpano, mas ao mesmo tempo tão fluido na maneira de preencher o vazio sonoro. Fazer música nunca deixará de ser um experimentalismo. E a mais ambiciosa será sempre a melhor. A mais arrojada, corajosa, audaz e tenaz na forma de procurar a conjugação perfeita de harmonias e vibrações representadas num sistema hertziano.
Desse modo, porque é “vendida” mais música a quem mostra a perna em videoclips executados em estúdios aberrantes onde o conhecimento musical se pode reduzir a um nível desprezante? As estratégias delineadas em escritórios cheios de empresários ávidos de mais moedas nos bolsos são ridículas, mas mais ainda se torna o consumidor ao fazer aquilo que eles querem. Senão olhemos. A rádio chegou a um estado de podridão musical que levou a que eu me recusasse a usar qualquer tipo de dispositivo desse género. Os videoclips inundam as televisões com pernas bem depiladas e estúdios exageradamente decorados com paisagens afrodisíacas ou megalómanas. Os artistas dão concertos e autógrafos, circundados por gritos histéricos de raparigas descontroladas sem a mínima noção do insípido. E a música? Ah, é o pano de fundo de um teatro bem representado por profissionais da maquilhagem e estética com o pleno objectivo de escravizar o público-alvo. Muito e muito obrigado caros artistas da música actual, ainda não sou estúpido o suficiente para vos ouvir, ver ou, muito menos, comprar.
Todos os dias pesquiso música de qualidade. Todos os dias consigo encontrar um grupo com ambição baseada numa experimentação musical pronta a atingir algo novo. Todos os dias deparo-me fã de um grupo que, quando o identifico a um qualquer amigo meu, me faz ouvir um “quem? desconheço”. Assim continuem, no vosso caminho alternativo até alcançarem o vosso próprio ego, que eu cá estarei para vos ouvir.
Porque, por muito estranho que pareça, há tanta música boa por aí. Ela só não nos chega aos ouvidos.