quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

[60] (Des)Acordo

Entrou 2012 e, com ele, uma espécie de (des)acordo ortográfico transportado a ferros nos últimos meses. Mensagens de discórdia, relutância e algum conformismo têm marcado um processo que, olhando para os seus limites, apenas se assume como estupidamente irrelevante.

A língua portuguesa que nos foi ensinada foi sujeita a um acordo onde nos é pedido “um esforço de adaptação a uma nova imagem gráfica”. A sobreposição da fonética ao grafismo é um erro comum que tem esventrado culturas e tradições, surripiado gerações que não sabem sequer falar, quanto mais escrever aquilo que dizem. Reformas bem mais importantes eram balões de oxigénio na nossa base linguística como esclarecer disparates gramaticais relevantes e presentes em noticiários informativos e jornais de excelência.

O acordo ortográfico coloca em causa o ensino da própria língua portuguesa, onde a eliminação das consoantes mudas questiona a conjuntura dos ditongos, ridicularizando a sua aprendizagem. Não se saberá explicar o porquê de “adoçante” e “adoção” terem, respectivamente, “O” fechado e “O” aberto. Entramos no espírito português moderno do “ser por ter de o ser”, sem se questionar, sem se ouvir a população, sem haver um equilíbrio que não nos torne ovelhas negras num paraíso de inúteis.

Sinto a minha língua esfaqueada por um soslaio de desenvolvimento moderno que não só não é moderno e descontextualizado, como também é dinamizador de preguiças e inculturas que desviam a nossa sociedade do seu rumo dia após dia.

PS: este artigo não foi escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, e nunca o será.