quarta-feira, 24 de março de 2010

[18] Alguém?

Ora, porque será que ninguém lê o que escrevo? Penso que uma das respostas possível passa por não me chamar José Castello Branco ou Bibá Pitta. Certos momentos de uma simples passagem minha por uma livraria tornam-se asquerosos ao ponto de pensar que o comum português só compra aquilo que está à vista no sacrificado mundo da televisão em prol de receitas financeiras astronómicas. Além disso, não só vejo os autores mais vendidos como o tipo de livros que aguçam a curiosidade. Senão reparem em alguns exemplos. “Como sair da crise” ou “Consigo fazer com que emagreça” são subtis desperdícios para a humanidade. Como Barack Obama e todos os líderes do G14 estão enrascados com o serviço, deviam ler um dos 50 livros intitulados “Como sair da crise”. Que insensatos.

Assumo que metade dos livros que geram boas receitas para os seus autores foram concebidos com esse mesmo propósito. Ou pensam que já não existem livros acabadinhos de lançar sobre o “bullying”? Claro que sim! Vai fazer uma pipa de massa, porque não param de surgir casos desses no Telejornal.

Autores como Fernando Pessoa, Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, Eça de Queirós ou Bocage serão lembrados pela sua obra. Pelo que a sua genial mente conseguiu transmitir ao comum leitor que aprecia a boa escrita como transmissão de filosofias de vida. E exceptuando excelentes casos de escrita portuguesa, a maioria não será apenas mais uma gota neste oceano, mas mais uma moeda numa enorme algibeira.

Ninguém me conhece, ninguém me lê, mas abro a minha mente e digo o que penso. Nunca irei certamente reformular uma frase por possivelmente chocar alguém que a vai ler. Ou seja, alguém que possivelmente refutará a compra do meu livro. Alguém que não me dê dinheiro para mais um cappuccino num destes dias. Essa é a parte onde a escrita se torna verdadeira e pela qual admiro os autores dos livros que tenho acima da minha cabeça numa estante bem preenchida.

quinta-feira, 18 de março de 2010

[17] O Baloiço

Chego-me à frente e atrás num espaço de segundos. Da mesma maneira que consigo subir e descer patamares. Viajando no tempo. Redescobrindo sensações. Revivendo memórias. A nostalgia encrustada na minha pele permite-me mostrar um cínico sorriso amarelo. De uma altura em que tudo era perfeito e que nunca mais será. A saudade, tipicamente portuguesa de um modo sôfrego e pessimista, devia ver-se ao espelho. Vejo-me neste baloiço, sorrindo e lacrimejando papéis rasgados de uma foto tirada de quando eu não conseguia sequer segurar a máquina que a proporcionou.

Sinto-me mais realista, mais preparado para o Mundo. Tenho os pés bem assentes no chão. Quando era mais novo, bem me podia esticar, mas nunca alcançaria o chão sentado neste baloiço. Cresci. Física e mentalmente. Então porque receio mais o Mundo agora que antes? Talvez a pureza que vivia dentro de mim me fizesse voar. Livre e sem destino, num palco onde não havia bastidores e realizadores.

O meu coração continua a bater forte como sempre o fez. Bombeia emoções, vivências e imagens desfocadas. Bem rápido, como a criança que corre num pátio vazio atrás de algo que só ela consegue ver e identificar. Mesmo enquanto dorme, ele continua a alimentar os sonhos que me preenchem a alma.

Qualquer pessoa cresce e tem a capacidade de perceber o que se passa à sua volta. Assim o queira. Assim saiba usar a preciosidade que temos dentro da nossa cabeça. Uns melhor, outros pior. Não há duas pessoas iguais. Sem egocentrismos, todos nós somos únicos. Logo posso afirmar, com orgulho, que sou único neste Mundo enorme e complexo. Então porque pareço desesperar para que o baloiço ao meu lado, que sempre esteve vazio, seja finalmente preenchido?