quinta-feira, 18 de março de 2010

[17] O Baloiço

Chego-me à frente e atrás num espaço de segundos. Da mesma maneira que consigo subir e descer patamares. Viajando no tempo. Redescobrindo sensações. Revivendo memórias. A nostalgia encrustada na minha pele permite-me mostrar um cínico sorriso amarelo. De uma altura em que tudo era perfeito e que nunca mais será. A saudade, tipicamente portuguesa de um modo sôfrego e pessimista, devia ver-se ao espelho. Vejo-me neste baloiço, sorrindo e lacrimejando papéis rasgados de uma foto tirada de quando eu não conseguia sequer segurar a máquina que a proporcionou.

Sinto-me mais realista, mais preparado para o Mundo. Tenho os pés bem assentes no chão. Quando era mais novo, bem me podia esticar, mas nunca alcançaria o chão sentado neste baloiço. Cresci. Física e mentalmente. Então porque receio mais o Mundo agora que antes? Talvez a pureza que vivia dentro de mim me fizesse voar. Livre e sem destino, num palco onde não havia bastidores e realizadores.

O meu coração continua a bater forte como sempre o fez. Bombeia emoções, vivências e imagens desfocadas. Bem rápido, como a criança que corre num pátio vazio atrás de algo que só ela consegue ver e identificar. Mesmo enquanto dorme, ele continua a alimentar os sonhos que me preenchem a alma.

Qualquer pessoa cresce e tem a capacidade de perceber o que se passa à sua volta. Assim o queira. Assim saiba usar a preciosidade que temos dentro da nossa cabeça. Uns melhor, outros pior. Não há duas pessoas iguais. Sem egocentrismos, todos nós somos únicos. Logo posso afirmar, com orgulho, que sou único neste Mundo enorme e complexo. Então porque pareço desesperar para que o baloiço ao meu lado, que sempre esteve vazio, seja finalmente preenchido?

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