sexta-feira, 30 de outubro de 2009

[3] 21.12.2012

O fim está próximo. Aproxima-se o apocalipse, a fúria dos deuses que irão devastar e reduzir a cinzas tudo o que a humanidade tratou de empilhar ao longo de séculos. Os efeitos são imprevisíveis. Uma catástrofe de proporções inimagináveis avista-se no horizonte da mente de religiosos, cientistas e alguns lunáticos. Na nossa (in)vulnerabilidade, nada travará a Natureza e os seus efeitos nefastos que, sem aviso prévio, atacarão e arrancarão as raízes do ser humano.

Estamos em 2009? Então mas, pensei que estávamos em 1999 e que tudo isto era previsto para o ano 2000. Que desagradável, tenho de acertar o meu relógio. Isto de andar com o horário maia num lado e o horário fenício no outro troca-me as voltas.

Os Maias fizeram previsões. Um ciclo acabará para os Maias na data de 21/12/2012. Óptimo. Eu não sou Maia. Que comece um novo ciclo para os Maias no dia 22/12/2012 que eu vou comprar, à pressa e como sempre, as prendas de Natal para a minha família. E já agora, que o aquecimento esteja ligado em casa, porque essa altura é tramada para as frieiras. Uma lareira, um chocolate quente e um bom jazz e tenho um serão perfeito.

Um “iluminado” chinês não consegue prever para lá dessa decisiva e fantasmagórica data. Ele que continue. Eu um dia também acertarei no estado do tempo para o dia seguinte. Não desista, senhor de olhos em bico. Ah, o senhor já faleceu. Alguém há-de não desistir por ele. Posso ficar descansado com esse facto.

Um alinhamento fora do normal tomará supostamente lugar entre a Terra, o Sol e a Via Láctea, onde mora um desmesurado buraco negro. Poderá afectar catastroficamente o campo magnético da Terra. Os pólos inverterão a sua posição e tudo levará ao apocalipse que referi no início. Não me posso afirmar um técnico dentro da astronomia, mas posso afirmar que esta teoria ganha muito mais força para os lunáticos quando há “profecias” por detrás. Tomam-na muito mais a sério, não é? Pois é. O medo vende, e não é pouco. E para termos a certeza que assustamos, mandamos umas...seis, não. Oito profecias ao mesmo tempo. Com oito convencem-se o resto das velhinhas cépticas que irão ficar na sua casa quando chegar o momento da verdade, ou da decisão, ou de mais um falhanço dos suprasumos das profecias.

Tanto sapo azedo engoliram quando, infelizmente, o Mundo continuou o seu rumo natural no ano 2000. Agora, como já caíu no esquecimento, arranjamos outra. E se não for em 2012, em 2029 cai-nos um meteorito em cima. Aí é para haver a certeza final de que não sobrará ninguém no planeta. Não são “profecias” que irão convencer seja quem for. Primeiro que tudo, uma “profecia”, palavra tão pomposa e bonita, não passa de uma simples previsão. É baseada em estudos e análises de acontecimentos passados. “Profecia” apenas ganha ali alguma conotação religiosa que, no fim, até consegue impôr respeito, como se algo de espiritual se tratasse.

Previsões, muitos intelectuais e burros as podem fazer, com ou sem fundamento teórico. Se esse dia fosse importante, estaria na Bíblia, eu estaria informado disso desde o dia em que nasci, a data estaria espalhada no Mundo inteiro e medidas de precaução a nível global estariam tomadas. Os suicídios, as viagens espaciais para outra galáxia, os seguros de vida e os despedimentos teriam aumentado. Bela noção de caos. Gosto mesmo de divagar em coisas que não fazem sentido. Entretém-me.

Em 2013 logo escrevo sobre isto outra vez.

sábado, 24 de outubro de 2009

[2] Infinito

O infinito. Uma das palavras mais fáceis de usar e, para mim, das mais difíceis de definir. Posso recorrer a um dicionário e ler qualquer coisa como “algo sem fim”. Porém, para mim, tudo tem um início e um fim. E será que alguém me convence do contrário?

Tão fascinados ficam os alunos na escola quando usam aquele “oito deitado” (∞) e representam o infinito. E então? Só porque o número não cabe no caderno diário passa a significar que é “infinito”? Pode ter 890 dígitos, pode ser um valor monstruoso, mas existe e tem um início e um fim. Tão inóspita é a situação da matemática como é a das físicas e o consequente estudo do Universo. Até onde vai o Universo, neste complexo e cósmico conjunto de galáxias e planetas? Para o infinito. Que maneira tão simples de resolver um belo problema de cálculos. Se nos perguntarem quão grande é o Universo, dizemos que este se está a expandir para a infinidade. E esta é inquestionável, porque não encaixa na mente das pessoas e estas estão descansadas com esse facto.

As coisas foram feitas para ter um início e um fim. A vida conjuga-se com a morte. O casamento, se não terminar com um divórcio, termina oficialmente com nova morte. Um contrato já é assinado sabendo quais as indemnizações inerentes associadas à sua cessação. Um carro já é comprado de acordo com o possível retorno do mesmo alguns anos depois. Um apito define o intervalo de um jogo.

Este texto vai ter um fim daqui a umas linhas. Por muito que escrevesse e escrevesse durante toda a minha vida, haveria um momento em que, após ter chegado o meu fim, poderiam aceder a este ficheiro e ver os seus limites.

O infinito é um fenómeno criado há muitos séculos por cientistas e intelectuais, que viram nesta palavra a saída para muitos problemas encontrados na resolução de problemas matemáticos e astronómicos. A sua utilização perante a sociedade não passa de um puro acontecimento metafórico e quem declare que este existe, deve iniciar uma viagem espacial à sua procura para me trazer provas. Pena que a viagem para o infinito tenha uma duração e distância infinitas, pelo que já cá não estarei para me convencer disso.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

[1] Preâmbulo

Quem diz preâmbulo diz prefácio, ou prólogo, ou então início. Inicia-se aqui mais uma caminhada ao longo dos meus nervos cerebrais que, teimosamente, continuam a enviar informação a mais e a congestionar o meu pensamento. Depois de, sarcasticamente, verificar a insolubilidade do meu problema, meneei a minha cabeça, verificando que poderei dar asas à escrita e deixá-la espairecer pelas entranhas do meu ser. Sobre que irei escrever? Pense em algo ridículo.
Acertou.