Tão majestoso como o ar que respiramos, é o rol de sentimentos que
conseguimos acumular dentro de seres tão pequenos como nós. Sentimentos capazes
de mover montanhas, penínsulas, estátuas e promontórios. Imponentes como um
basalto em bruto, suaves como uma pena a deslizar de uma ribanceira ao relento,
curiosos como uma lebre a espreitar por uma duna inocente. Somos capazes de
tudo e de nada, de alcançar limites, redefini-los e ultrapassá-los de novo,
numa constante procura pela perfeição. Só o ser humano consegue ser destruído
para se levantar de novo das cinzas, desprovidas de caridade e de compaixão.
Apenas me questiono, calmamente sentado na minha cadeira de
escritório, onde não há cinzas, nem montanhas, nem estátuas. Isto paira tudo na
minha cabeça, viajante e ilusionista, como sempre. Porque é a terminologia dos
sentimentos tão traiçoeira? Mas, pior que tudo, porque confio eu nela? Talvez
porque sou assertivo quando a uso. Tal não obriga outros seres humanos a fazê-lo.
A terminologia da vida é complexa e baça, como um espelho mal lavado ao longo
dos anos. Quanto mais usamos as palavras, mais elas se tornam usuais e
facilmente banalizadas. Antes, um croissant
era bolo para altos estratos da sociedade. Agora, dêem-me uma queijada, que
fico mais bem alimentado. Quando me falavam em Chrysler, também imaginava um GT500 qualquer. Agora, está dentro
das rotas citadinas ao alcance do comum dos mortais.
Hoje em dia, as bases das relações interpessoais na nossa sociedade
podem basear-se numa estratosfera piramidal onde, de baixo para cima, podemos
integrar o conhecimento de vista:
superficial, possivelmente sem saber o nome; conhecimento de circunstância: partilha de experiências e
curiosidades; empatia: identificação
com personalidade e carácter, encaixe psicossocial; amizade: dar e receber, estar presente, ajudar, sacrificar; encantamento: estranheza, identificação
de elos interiores comuns, princípio do degrau seguinte; amor: encantamento, amizade, empatia, sexualidade, unicidade,
tolerância e descontrolo dos sistemas digestivo e circulatório.
Esta sequência de conceitos não foi retirada de um qualquer livro de filosofia
de Jeremy Bentham. É algo meu, do meu ser psíquico e pensante. Agora, quando
olharem para mim, seja numa secretária, seja numa montanha, digam-me em que
degrau se encontram. Vai facilitar as coisas.