Um cativeiro de emoções. Um poço de esperanças e um livro poeirento de
memórias bonitas e indefinidamente repetíveis. Ambiciosamente, olha-se em
frente e consegue-se fazer evoluir memórias. Pegar nelas e acrescentar-lhes uma
pitada daquilo que num certo momento, não se conseguiu completar. Como pegar
num filme de Lumière e acrescentar-lhe um efeito especial contemporâneo.
Reviver sem criticar, pintar sem apagar. Somos escravos dos nossos próprios
filmes, porque nos guiamos inconscientemente por eles. Estamos em cativeiro com
a nossa cabeça, porque é ela que decidirá o próximo passo.
O nosso nível de liberdade e de ambição depende do nível de escravidão
e de compromisso que nós assumimos com o nosso cativeiro. Quão largo é o nosso
horizonte. Mais ou menos largo, mais ou menos profundo que o do comum dos
mortais. Aquilo que é demasiado ambicioso para uns, levando à cobardia, pode
ser banal para outros, levando à contemplação real de um pressuposto antigo. A
zona de conforto não desaparece com estereótipos. Desaparece quando saímos da
nossa escravidão mental, assumindo uma decisão que vai para lá daquilo que foi atempadamente
planeado. Da mesma forma que uma pessoa com casa, carro e viagens pagas, pisa
uma poça e diz que os sapatos sujos lhe estragaram o dia, um sem-abrigo teria o
dia ganho se tivesse casa. Não vale de muito comparar o cativeiro de cada um.
Regra geral, eles existem e crescem, dia após dia, sucesso após sucesso, calo
após calo.
Um cativeiro de emoções. Agora imagine que uma parte do seu reacorda
da penumbra. Desafia-o e faz-lhe uma proposta. Quer sair do cativeiro. Quer
sair da escravidão mental. Quer ser real. Deixamo-lo sair da zona de conforto e
torná-lo palpável? Ou mantê-lo lá preso e cómodo à sua estante do lobo
temporal? A minha estante do lobo frontal acenou logo, e já decidiu.