quinta-feira, 7 de março de 2013

[72] Traços


Glimpses de futuro. Flashes desmesurados numa tela presa a uma parede sombria. Pinturas de coisas que ainda não vivi. Imprevisível como se o prego vai aguentar o peso da tela. Não sei se as vou viver. Aguentar, tal visionário, ou arriscar, tal mestre de estatística num jogo de roulette? Revejo quadros que pintei. Nenhum ficou como a minha cabeça imaginou. Sou mau artista e sou demasiado esperançoso? Aplico as minhas esperanças em cada traço amarelo torrado que passeio pelas ruas do meu futuro ser. Quero ser o meu futuro ser, aquele que ainda não está pintado.

Temos ambições e esperanças. Nenhum de nós sabe se as vai atingir ou tocar ao de leve. Ambições dentro do razoável, a curto e longo prazo, como “vou comer frango assado ao jantar” ou “vou ser uma estrela de Hollywood”. Seja o que for que nos guie, criamos uma linha orientadora dentro de nós próprios. Algo a que nos agarremos no dia-a-dia. Uma luz ao fundo do túnel. Aquela luz que nós queremos ver e viver, para lá das milhões que suplantamos a cada passo que damos em nossa casa. Essas já foram vividas e experienciadas de todos os ângulos possíveis. Nós queremos sempre criar um ângulo diferente. Dar-lhe mais lustro e visibilidade. Encantamento e satisfação. Pintar a tela com outras mãos. Que tornam o traço mais suave e sinuoso num contexto nefasto de situações irreversíveis. Que, apesar de tudo, nos mostra que a suavidade e sinuosidade está nas nossas mãos. Com determinação e alguma sorte, consegue-se tudo. Sem confundir determinação com teimosia, e sorte com cegueira.

Eu tenho ambições. Eu tenho a minha tela vazia. Eu tenho a tela desenhada na minha cabeça. Dia após dia, apenas me questiono se essa tela vai ficar como eu a desenhei. Mas só tenho uma forma de o saber. E essa forma é pegar em mim próprio e começar esse quadro, que é o mais belo que alguma vez imaginei.

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