domingo, 15 de novembro de 2009

[6] Puzzles

Certo dia, encontrava-me eu a meio duma complexa viagem num qualquer local estrangeiro cheio de monumentos para ver. Argumentava com um amigo meu o porquê da inquietação e desconcertância de outros amigos nossos em pular de monumento em monumento, sob pena de perder para sempre a oportunidade de ver, com os próprios olhos, aquele edifício que se encontra na pág.34 de “O Roteiro de Banguecoque – ilustrado”. Nunca consegui descortinar essa certa obstinação em ver tudo, como se não houvesse dia seguinte.

Ver é uma coisa. Apreciar, sentir, observar é outra. Em turismo, como em qualquer outra experiência da nossa vida, é essencial saber apreciar. Em frente a um museu, deparei comigo e com o meu amigo, sentados e calados em frente a esse edifício a contemplá-lo. Porque, por mais cliques que o obturador da máquina dê, nada compensa o sentimento que aquele lugar nos transmite. E locais especiais não faltam.

Quem se limitar a coleccionar documentos fotográficos de muitos locais diferentes vai deixar passar o sentimento de que tudo foi rápido demais. A vivência resultante da apreciação silenciosa do local irá passar para o nosso interior a força de um momento, a importância de um monumento. Quem me conhecerá poderá afirmar: “então mas nunca te vi fazer tal coisa!” Pois, é bem verdade. Quando tenho esses momentos, é muito raro ter alguém perto de mim pela simples razão de extrapolar esses momentos “turísticos” para momentos de reflexão comigo mesmo. Há pessoas que podem interiorizar-se observando as estrelas, o sol, a lua. Até a própria parede do seu quarto. Eu tenho o meu cantinho. Algures nos sítios que considerei especiais à volta do Mundo, eu reservei e partilhei o sótão do meu cérebro por sentir-me seguro, confiante e confidente.

Saber apreciar é saber viver. O esplendor de determinados momentos espelha-se no nosso interior como mais uma peça do puzzle que nos permitirá descobrir a nós próprios.

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