“A predição é muito difícil. Principalmente sobre o futuro.” Esta
frase pertence a Niels Bohr, proferida no início do século XX. Apenas por si
só, predizer já pressupõe uma vaticinação ou uma profecia. Mas tal raramente nos
leva a um porto seguro, como vemos nas profecias sobre 2012. O facto de nos
predizermos apenas nos leva a pensar num ponto actual onde qualquer um de nós
se encontra, até a um outro ponto a uma certa distância após um determinado
tempo. Um planeamento. Os melhores sempre se destacaram pela capacidade de
antecipação e de conjectura do futuro, numa tentativa simulada de tentativa e
erro em intervalos de horas, dias ou meses.
Como em tudo na vida, existem margens de erro e de descalabro. Os que
se obcecam pelo planeamento do futuro, forçando-o. Os que o ignoram,
deixando-se levar na corrente a caminho do riacho de ouro ou de lixo químico.
Os que nem sabem o que é, derivando num mar sem ondas a caminho de ponto
nenhum. Os que o encaram com ligeireza, e com possibilidades de ser
surpreendidos perante ambos os prismas. Tanta pessoa, tanto futuro, tanta
combinação improvável de magia ou de sombria e imaculável pobreza de espírito.
O mundo em que vivemos baseia-se numa mazela de pobrezas de espírito onde algo
brilhante nos surge esporádica e radicalmente.
Não há que forçar brilhos, não há que forçar futuros. Há que viver o
presente, com capacidade de vaticinação. Há que enganar os planos e trocá-los
de ordem. Mas acima de tudo, há que ter a noção se estamos em condições de
vaticinar. Eu não estou. Logo, não vaticinarei sobre a minha vida e
negligenciá-la-ei com todas as minhas forças, pronto a surpreender-me a ser
surpreendido!
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