quinta-feira, 1 de abril de 2010

[19] Revivalismos

Um beijo voa numa tempestade solarenga. Suspiros exsudam-se dos meus poros a um ritmo implacável. A brisa malévola que faz levantar as poucas folhas que ainda se encontram no chão penetra e seca um chão molhado. Penas de uma gaivota esquecida compenetram-se e fixam um anjo arrogante. O horizonte é rígido, mesclando teclas de um piano sem escala. E as imagens que guardei surgem como películas antigas e enevoadas. Como quem pega num brinquedo esquecido e se lembra de soprar o pó que o cobre. Como quem visita o baú no seu sub-consciente e se perde no labirinto que lá dentro se proporciona. Como quem visita esse labirinto e se apercebe que está a fazer de rato numa armadilha bem planeada. Como quem gosta de ser rato e se arrepende de o ser, tempo a tempo.

Dicotomias, parâmetros, avaliações, perspectivas. Raciocinar é trabalhar a mente para resolver problemas nunca antes questionados. Nostalgiar é trabalhar a mente numa atitude masoquista, vertebrada e insolvente. Esquecer é trabalhar a mente num processo de avaliação SWOT, identificando pontos fortes e fracos, problemas e fraquezas, e lidar com eles.

A nostalgia torna o nosso presente num revivalismo. Traz-nos boas e más memórias que nos prendem no nosso canto, olhando para trás e ainda mais para trás. Aquela pessoa, aquele local, aquela noite, aquela comida. Aquele tempo. Quando ser nostálgico é ser consciente e futurista é ser inconsciente, algo vai mal. Quando é no futuro que tudo reside, onde tudo será investido, onde qualquer pessoa PODE mudar algo. Então porque somos nós tão saudosos do passado e receosos do futuro? Porque somos nostálgicos. Porque somos masoquistas.

O engraçado passa por eu saber compreender tudo isto e, no fim, olho para mim e vejo-me noutro local, a comer algo diferente, com outra companhia e a divertir-me. E em que espaço temporal me vejo? Pois.

Também sou masoquista.

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