domingo, 2 de maio de 2010

[24] Ela

Ela. Ela é que me engana. Que me leva pelos caminhos errados com atitudes desmesuradas. É bela, mas nem por isso sublime. Nem muito esguia nem muito larga, roça a mais comum das formas. Mas gosto dela como ela é, até porque tal não se muda. Concentrada mas, por vezes, desviante, desconcentra-me daquilo que mais é essencial. Ela é teimosa, mas a moldagem ainda é um atributo que consigo concretizar. Impulsiva e comunicativa, nunca desiste de nada. Insiste em tudo o que é mais enriquecedor. Identifico-me com ela mas gostava de mudar certas coisas. Mas é isso que me fascina nela. A capacidade de querer sempre algo mais apesar de ver os carris do comboio e ler “fim da linha”. Orientar-me por ela é como segurar numa bússola com a guia partida. Posso não saber que caminho tomar, mas ela seguramente indicar-me-á um. Costuma dizer-se que elas, normais, têm qualquer coisa de excepcional. Se ela é normal? Acho que ninguém se consegue caracterizar como “normal” pela subjectiva definição do próprio conceito a ele associado. Não. Ela não é normal. É maluca também. Maluca até que ponto? De fazer qualquer coisa. “Qualquer”, como assim? Pense em “qualquer coisa”. Ok. Saltar dum arranha-céus? Sim, vejo-a a fazer isso. Ela é mesmo assim. Pronta a surpreender, e eu não posso dizer que sou um ser surpreendível. Não gosto quando ela mete aquele ar de calculista. Perigosa, antecipadora, controladora e perspicaz. Mas sinto-a na necessidade de o ser. Em determinado tipo de situações. E é por isso que a apoio.

Nem sempre a entendo. Ela faz-me pensar e pensar. Até perder o sono e encontrá-lo noutros recantos umas horas mais tarde. Faz-me palpitar o coração. Mas porque tem ela de me descontrolar desta maneira? Porque gosta de o ser. Porque está ligada a mim de uma maneira da qual eu não consigo separar, por mais que eu tente. Será que esse momento chega e sou capaz de me ver livre dela? Talvez sim, talvez não. Mas tudo o que escrevi não apoia a ideia de que realmente o quero fazer. Vêem? Ela descontrola-me.

Que tramada é ela. Que tramada é a minha cabeça.

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