terça-feira, 12 de maio de 2015

[75] Avalanches

Avalanches de momentos. Inóspitos, equívocos ou meras coincidências. Tendem todas elas a, numa combinação improvável, alterar a agulheta das nossas vidas. Direccionadas ou desalinhadas, todas elas têm um rumo. A nossa maturidade molda a forma como pegamos nessa agulheta. Se a seguramos veementemente ou a deixamos escorregar na perspectiva desleixada de ela escorregar para um caminho subitamente mais interessante. Deixar aquele momento escapar ou fazê-lo acontecer. Forçá-lo, só para senti-lo, tocá-lo, rebatê-lo. Esquecê-lo, apenas porque sim, porque eu quero, porque eu não quero, porque eu não sei o que quero.

Avalanches de acontecimentos. Onde o tudo e o nada somem, unem e agregam esta biópsia irrelevante. Onde o tudo se torna em nada. Onde o nada se torna em algo que nos agarra e nos prende e nos consome. Onde o tudo nos retarda o adormecer, onde o nada nos antecipa o amanhecer. Onde aquele momento é questionado e revisto de fio a pavio. Aquele segundo que se torna numa exacerbada hora de sonho ou de pesadelo. A nossa personalidade define a forma como colocamos a lupa à frente dos nossos olhos. Vendo um fundo negro de escuridão e depressão ou uma paisagem silvestre de frutos oásicos.

Avalanches de memórias. Flashes de histórias, singelos e burocráticos. Reuniões de momentos, encarrilados num rio deslavado. Formando aquilo que é cada um de nós. A sua montagem, piramidal ou anárquica, delineia os nossos traços como seres humanos. A influência singular de cada pessoa que se cruza no nosso caminho. Uma palavra. Um insulto. Um olhar. Um abraço. Uma vitória ou uma derrota. Um bilhete. Que palavras nos deixou e nos induziram em erro numa mera perspectiva poética e indolente.   

Avalanches. Que nos agarram e descontrolam. Ainda me descontrolas nesse teu jeito. Apaixonado pela vida. Com tanto para percorrer e com tanta avalanche para vislumbrar ao longe. Um jeito sinérgico, dicotómico e intenso. Um jeito subtil, doce e puro. Ainda me descontrolas. Com tanto para viver e com tanta avalanche para aguentar. Tanto peito para encher de ar e de coragem e de devaneios. Onde segurarás a tua própria agulheta, onde colocarás a tua própria lupa, onde deixarás o teu bilhete. Mesmo assim, as minhas avalanches só serão controladas quando te vir estoicamente a controlar as tuas. Nesse teu jeito.  

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