Avalanches de momentos. Inóspitos, equívocos ou meras coincidências.
Tendem todas elas a, numa combinação improvável, alterar a agulheta das nossas
vidas. Direccionadas ou desalinhadas, todas elas têm um rumo. A nossa maturidade
molda a forma como pegamos nessa agulheta. Se a seguramos veementemente ou a
deixamos escorregar na perspectiva desleixada de ela escorregar para um caminho
subitamente mais interessante. Deixar aquele momento escapar ou fazê-lo acontecer.
Forçá-lo, só para senti-lo, tocá-lo, rebatê-lo. Esquecê-lo, apenas porque sim,
porque eu quero, porque eu não quero, porque eu não sei o que quero.
Avalanches de acontecimentos. Onde o tudo e o nada somem, unem e
agregam esta biópsia irrelevante. Onde o tudo se torna em nada. Onde o nada se
torna em algo que nos agarra e nos prende e nos consome. Onde o tudo nos
retarda o adormecer, onde o nada nos antecipa o amanhecer. Onde aquele momento
é questionado e revisto de fio a pavio. Aquele segundo que se torna numa
exacerbada hora de sonho ou de pesadelo. A nossa personalidade define a forma
como colocamos a lupa à frente dos nossos olhos. Vendo um fundo negro de
escuridão e depressão ou uma paisagem silvestre de frutos oásicos.
Avalanches de memórias. Flashes de histórias, singelos e burocráticos.
Reuniões de momentos, encarrilados num rio deslavado. Formando aquilo que é
cada um de nós. A sua montagem, piramidal ou anárquica, delineia os nossos
traços como seres humanos. A influência singular de cada pessoa que se cruza no
nosso caminho. Uma palavra. Um insulto. Um olhar. Um abraço. Uma vitória ou uma
derrota. Um bilhete. Que palavras nos deixou e nos induziram em erro numa mera
perspectiva poética e indolente.
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