sexta-feira, 13 de agosto de 2010

[30] Ipiranga

Inovação, conspiração, vôos mais altos, revolução e inconformismo são pontos assentes de muitos daqueles que pertencem a uma geração que floresce a cada dia que passa. Longe ou perto de casa, tudo parece óptimo. Uma ribeira abandonada soa a cataratas do Niagara, uma pizza abandonada parece que saiu do forno, uma bebida odiosa sabe a vinho do Porto do mais doce, um cagalhão cheira a lavanda. Todos nós sabemos o que isso é, e quem não sabe e se mostra curioso ao ler isto, passa a saber o verdadeiro significado da palavra “ilusão”. Os jovens de hoje em dia, e falando por experiência própria, pretendem dar o “grito do Ipiranga”. Mas cada um por si, numa descoberta isolada e auto-guiada pelos recônditos recantos de todo um Mundo que nunca será descoberto no seu expoente máximo. Todos procuram estar sós. Chegam tarde e a más horas, porque ninguém vai reclamar com as horas, comem às horas que a barriga disser, por não haver o preconceito da etiqueta digestiva. Só não compram o que querem porque há uma autoridade superior. Logo, tudo o que fugir à autoridade superior é usado e abusado até às entranhas. Até o tempo acabar.

Se está a viver uma experiência parecida, deixo aqui um conselho pouco importante. Quando aquele tempo acabar, onde nada conta a não ser nós próprios, tudo muda. A sensação de voar como passarinhos numa atmosfera cipreste, ou como gaivotas a sobrevoar o Pacífico, vai realmente transformar-se num comum quarto decrépito, com os restos dos cereais do pequeno-almoço ainda por levar para a cozinha. E aí, necessitam-se algumas coisas: ser-se inteligente, humilde e perspicaz, ao invés de ser egoísta, burro e guloso. Porque quando formos egoístas, vamos estar no quarto decrépito e quando olharmos para o tecto, ainda vamos ver os passarinhos a voar. Quando formos burros, vamos pensar que tudo o que passou não valeu a pena e que tudo voltou à normalidade. Quando formos gulosos, vamos buscar os cereais e enchemos de novo a taça.

Acima de tudo, a auto-descoberta de uma experiência isolada só pode trazer frutos se for partilhada na sua plenitude no mundo comum. Nunca se nos mantivermos isolados na esperança de que ela nunca mais acabe.

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